CRENÇAS DE FÉ

A morte não é o fim mais uma continuidade !!!!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CRENÇAS DE FÉ

Crenças e mitos

OS YORUBÁ, COMO OS DEMAIS GRUPOS AFRICANOS, CRÊEM NA EXISTÊNCIA
ATIVA DOS ANTEPASSADOS. A MORTE NÃO REPRESENTA SIMPLESMENTE UM FIM DA VIDA HUMANA, MAS A VIDA TERRESTRE SE PROLONGA EM DIREÇÃO À VIDA ALÉM – TÚMULO, EXATAMENTE EM ALGUM DOS NOVE ESPAÇOS DO ORUN, O DOMÍNIO DOS SERES DESPROVIDOS DO ÈMÌ. ASSIM, A MORTE NÃO REPRESENTA UMA EXTINÇÃO, MAS MUDANÇA DE UMA VIDA PARA OUTRA. OS ANTEPASSADOS OU ANCESTRAIS SÃO DENOMINADOS ÒKÚ ÒRUN E ÀGBAGBÀ, OU AINDA PELO TÍTULO DE ÉSÀ, USADO PARA REVERENCIAR OS ANCESTRAIS NOS RITOS DE ÌPÀDÉ, DOS CANDOMBLÉS DO BRASIL. UM ANTEPASSADO É ALGUÉM DE QUEM UMA PESSOA DESCENDE, SEJA ATRAVÉS DO PAI OU DA MÃE, EM QUALQUER PERÍODO DO TEMPO, E QUE O SER VIVENTE CONSERVA RELAÇÕES FILIAIS AFETUOSAS. Somente alcançarão a condição de ancestral com merecimento de culto aqueles que atingiram uma idade avançada, com uma vida de boa qualidade e trabalho expressivo para a sociedade, além de terem deixado bons filhos.
Para os Yorubá, um casamento sem filho é algo mal sucedido. Na verdade, seu sistema de valores tem pôr base três coisas: Owó, dinheiro, Omó, filhos, e Àíkú, vida longa. A vida longa é considerada a mais importante porque proporciona a oportunidade que pode tornar possível as duas outras. São esses e toda a linhagem de gerações passadas que, depois da morte se transformam, para seus familiares. Embora os ancestrais compreendam membros masculinos e femininos das gerações anteriores, os ancestrais masculinos são os mais importantes. Ao seguirem para o Òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela terra; dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares que ainda estão na terra. Pôr essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento.
Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que o que existe de fato é uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível entre o familiar que partiu e seus descendentes que aqui ficaram. A palavra culto então colocada tem o significado de homenagem que melhor expressa o nosso entendimento sobre o assunto. O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados, corresponde a passar de volta pelo portão do Oníbodè em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na terra. De acordo com o Òrun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a se referir como bàbá mi – Meu pai, ou ìyá mi – Minha mãe. Esta forma salienta o amor e a afeição que caracterizam as relações de ambos.
“Eu vou falar com o espírito de meu pai”, mas sim, “Eu vou falar com o meu pai”, numa comprovação de que eles continuam a Ter o título de relacionamento que tinham enquanto chefes de família . O fim da vida na terra envolve a questão a respeito do que se transforma o homem após a vida atual. Toda religião encara isto: nascimento, vida e morte( ìbí, ìyé àti ikú) ; o pós- vida – iyè lébìn kú; o julgamento divino – ìdájó ti Olórun; e o possível retorno em outra vida, sucessivamente – Àtúnwa.

ÌKÚ – MORTE - É visto como um agente criado pôr Olódùmarè para remover as pessoas cujo tempo na Terra tenha terminado. A morte é denominada Ìkú, e trata –se de um personagem masculino. Sua lógica é para as pessoas mais velhas, e que, dadas certas condições, devem viver até uma idade avançada. Pôr isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia; pôr outro lado, a morte de uma pessoa idos é ocasião para se alegrar. Sobre isto, costuma –se dizer Ikú Kí pani, ayò I’o npa ni – “a morte não mata, são os excessos que matam”. O odú òyèkú méji revela, em um de seus ìtàn, que a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado: No dia em que a mãe da morte foi espancada No mercado de Ejìgbòmekùn A morte ouviu E gritou alto, enfurecida A morte fez do elefante a esposa de seu cavalo Ele fez do búfalo sua corda Fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto para a luta.

Posteriormente, a morte foi subjugado depois que seus inimigos conseguiram que ela comesse o que era proibido comer, segundo o conceito do èwò, visto anteriormente ,só conhecido através do jogo de Ifá. Neste relato, é a esposa de Ikú, Olójòngbòdú, que revela este segredo: Nós consultamos Ifá para Olójòngbòdú, Mulher de Ikú , Ela foi chamada cedo, pela manhã , Eles perguntaram o que seu marido não podia comer , Que o tornasse capaz de matar outros filhos de pessoas ao redor? Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer ratos Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ratos? Ela disse que as mãos da morte tremeriam sem parar Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer peixe Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse o peixe? Ela disse que os pés da Morte tremeriam sem parar Ela disse que a morte, seu marido, não podia comer ovo de pata Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ovo de pata? Ela disse que a morte vomitaria sem parar. A conclusão deste odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjugada apenas depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer. Verificamos novamente a importância do respeito ás coisas proibidas, éwò, cujo conhecimento só é possível através do sistema de Ifá.
Devemos registrar que, no processo de divinização de Ifá, ocorrendo a caída deste odú, irá revelar vitória de qualquer pessoa sobre a morte. Embora a morte seja inevitável, e imprevisível, vimos que ele pode sofrer alterações através da intervenção de Òrúnmìlá ou de qualquer outro Òrísà junto a Olódùmarè, e isto é previsto em outro mito, quando Èsú consegue subornar o filho de Ikú, que revela o modo pelo qual Ikú matava com o uso de uma clava a fonte indispensável de seu poder. Sem essa clava , Ikú tornava –se impotente. Èsú foi ajudado pôr Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito Ajàpàá gbé òrúkú I’owó Ikú – “A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú”. Posteriormente, fez um pacto com Òrúnmìlá, com a condição dele ajudá- lo a recobrar a sua clava; em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Òrúnmìlá ou aqueles que estivessem com a data já determinada para o fim de suas vidas na terra. Isto reflete a necessidade de um constante acompanhamento da situação de uma pessoa através do jogo. Daí o provérbio Arùn I’a wò, a Ki Wo Ikú – “A doença pode ser curada a morte não pode ser remediada”. E ainda o odú Irò-sùn – oso revela:

Se Ikú não chegar, adoremos Òsùn
Se Ikú não chegar, adoremos Òrìsá
Se ikú realmente chegar, não adianta Ikú receber sacrifício.

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